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Boris Brejcha: “Começar com a máscara faz as pessoas ficarem loucas. Remove-la mais tarde é ainda melhor”

By Paco Cavaller

December 11, 2019

Faltavam apenas algumas horas para o produtor e personagem mais lendário da cena eletrónica internacional atuar pela primeira vez em Espanha. O Hotel Crowne Plaza Barcelona recebia-o num dos seus melhores espaços. No último andar, com vistas magníficas da Magic Fountain de Montjuic, ele esperava por nós. Nascido em Grunstadt, embora com um sobrenome Croata, Boris Brejcha afasta-se do perfil habitual dos artistas Alemães. Ele não gosta da cena de Berlim, não aposta nos sons industriais e não vai proibir retratos ou alongar seus espetáculos durante dias. Boris é mais uma Rock Star. Por isso mesmo decidiu viajar com a sua Tour team de autocarro. Durante anos muitas são as pessoas que tem vindo a ouvir a sua música. Em Setembro, finalmente foi-lhes dada a oportunidade de o ver ao vivo.

A sua produtora chama-se Fckng Serious. Ela é, de facto, uma produtora séria?

Claro que sim, é uma produtora séria mas podemos dizer que, de certa forma, as pessoas envolvidas nela não são. É por isso que se chama “Fckng” Serious. Nós somos sérios, mas também somos um pouco “malucos”. É tipo um 50-50.

Qual é o objetivo?

O nosso maior objetivo é fazer as pessoas felizes com a nossa música e com as nossas festas. Parece fácil, e de facto é fácil de dizer, mas é um objetivo complicado. 

 

Eu imagino que a FCKNG SERIOUS não é apenas sobre o Boris Brejcha…

Absolutamente que não. Nós planeámos ter muitas festas por todo o mundo de modo a conseguir incluir todos os diferentes tipos de artistas nos line-ups. Nós somos quatro e esta aventura é sobre todos nós. 

Nós lemos que começou a produzir a sua própria música com 12 anos de idade. Como é que chegou a esse ponto tão cedo?

Foi muito simples. Estava na escola e um amigo meu levou um CD hardcore. Essa foi a primeira vez que  ouvi música eletrónica. Costumava jogar na Play Station 1, e havia um jogo chamado Música. Era tipo Ableton. Podias fazer algumas batidas e melodias, então comecei a fazer música eletrónica com isso. 

Que conselho dá a um novo produtor com 12 anos?

É super importante aprender a tocar melodias e a suar o teclado, para assim tocares melodias boas. As melodias são algo que fica na mente das pessoas, por isso tens de saber como criar boas melodias. Também é importante saber algo sobre como usar uma bateria eletrócnica. Esse é um bom conselho. E, claro, produzir música que realmente gostes. Esse é o conselho mais importante. 

Acha mesmo que todas as crianças com 12 anos conseguem fazer isso?

Bem… (risos). Talvez algumas delas. Não sei. Mas todas elas deviam pelo menos tentar.

https://www.youtube.com/watch?v=TLvzz1ePBjQ

Em algumas plataformas, dizem que produz high-tech minimal techno. Como define a sua música?

Quando comecei a produzir música estava habituado a produzir trance. Depois, mais tarde, mudei para minimal e techno, mas nunca fiz nenhuma delas em específico , apenas as duas ao mesmo tempo. Eu fazia uma espécie de combinação das duas, com melodias e alguma bateria. Comecei com o minimal, mas depois quis encontrar outro nome melhor, então escolhi este, que eu acho que define muito melhor a minha música.

Podemos dizer o mesmo sobre a música de toda a produtora?

Não, é muito diferente. Nós temos dois rapazes da Suíça, que estão a fazer sons mais profundos, como Deep House, e a Ann Clue está a fazer um estilo de música techno mais bombeante.

Você é alemão mas muito afastado de Berlim. Há em Ludwigshafen e Rhein um espaço Underground muito diferente do de Berlim?

Na minha cidade não há nada. Nenhum tipo de espaço. Eu toquei 5 ou 6 vezes em Berlim e foi bom, mas comparado com o resto do mundo foi apenas OK.

No mundo inteiro… Qual é a sua crew favorita?

Há muitas cidades maravilhosas e sítios no mundo inteiro que são muito difíceis de comparar. Há um open-air espetacular em Cordoba, na Argentina. Eles têm uma fábrica antiga e é enormíssima.. Talvez eu escolhesse essa. 

Esta é a sua primeira vez em Barcelona?

Sim!! Vai ser a minha primeira vez a tocar aqui e é também a primeira vez que visito a cidade. Infelizmente não vou ficar muito tempo.

Esta tarde já esteve na INPUT. O que espera do local?  E da malta espanhola?

Acho que é um clube pequeno mas enorme, com um grande sistema de som. Eu adoro estas coisas pequenas e condensadas. São muito mais intensas. 

Quais são os seus pensamentos sobre o estado atual da ilha mais festiva do mundo, Ibiza?

Não sei porque nunca lá estive. Mesmo nunca.

Boris Brejcha durante a sua sessão no INPUT High Fidelity Dance Club. | Imagem: © Oriol Reverter

Chegou aqui com a sua Bus Tour. Conte-nos mais sobre isso. De onde é  que veio a ideia? Porquê um autocarro?

A ideia surgiu há 3 anos. Eu estava com a Ann Clue a tomar um copo de vinho e a pensar em ideias para o futuro. Nós apercebemo-nos que as estrelas de rock normalmente viajam de autocarro e às vezes mesmo com os seus filhos e famílias. Então nós perguntámos a nós mesmos “porque não com uma produtora de música eletrónica?”. Foi um caminho longo para fazer isto acontecer mas eu acho que foi mesmo uma boa ideia. Já chegámos a passar mais de 17 horas no autocarro a viajar mas é muito agradável porque nos divertimos juntos, bebemos, fazemos muito team building… É mesmo muito bom.

Disse uma vez que é magnífico ver as pessoas a dançar com a sua própria música numa dancefloor e que por isso nunca ia parar de produzir. O Boris Brejcha é mais um produtor ou um DJ?

Sim, eu nunca vou parar de produzir a minha própria música. Sou muito mais produtor do que DJ. Quando comecei a produzir música nunca pensei em pisar um palco. Nunca. A cena de ser DJ veio mais tarde, como uma consequência. 

Então são duas coisas completamente distintas? Ou hoje em dia, ser um produtor significa vir a ser DJ por fim?

Eu conheço muitos produtores que ficam produtores. Eles não gostam de serem DJs num palco ou de viajar todos os fins de semana. Eu tentei ser DJ e aprendi a gostar desta cena de DJ, então agora posso dizer que adoro. Mas percebo que algumas pessoas não gostem. 

Não é verdade que é super difícil de se tornar um produtor profissional que vive da sua própria música se não trabalhar como DJ ou atuar pelo mundo?

Se estamos a falar de música techno underground, isso é completamente verdade, infelizmente.

Quando é que iremos ver uma performance ao vivo feita por si? Penso que a ideia já lhe deve ter passado pela cabeça algumas vezes. Vai acontecer?

(Risos) Já tive essa ideia em mente várias vezes sim, mas na verdade não sei. Para o próximo ano estou a planear algo tipo um showcase. Também tenho em mente fazer algo com baterias eletrónicas mas é apenas uma ideia, não sei. É super confortável ir com estas pens de  USB. 

Hoje em dia, é impossível tornar-se um DJ sem produzir as suas próprias músicas?

Essa é uma boa questão. Eu acho crucial produzires as tuas próprias músicas. As pessoas conhecem-te e seguem-te só por essa razão. Na Alemanha nós temos muitos DJs que não produzem e eles nunca tocam fora da Alemanha porque ninguém os reconhece. Eles não têm música para mostrar e então torna-se mais difícil para se tornarem grandes e crescerem. 

Esta noite vamos ver a máscara? Como é que ela nasceu? Qual é o seu significado?

Claro que vão! Na verdade foi uma coisa engraçada. O meu primeiro espetáculo na minha vida foi no Brasil (sim, eu sei que é super estranho que não tenha acontecido na Alemanha). Eu pensava que tinha de fazer algo diferente porque havia muitos DJs. Pensei no Carnaval do Rio, as máscaras… e decidi comprar uma dessas máscaras e usá-la para tocar. 

Normalmente não a usa durante o set todo, pois não?

Não, normalmente uso em metade do set. Tenho de dizer que não é a coisa mais confortável do mundo para usar. Tenho algumas mudanças planeadas nela para o futuro. Mas em qualquer caso eu acho que também é bom fazer mudanças durante o set. Começar com a máscara faz as pessoas ficarem loucas. Removê-la mais tarde é ainda melhor. Quando eu a tiro, uma nova energia, vibe e a atmosfera são respiráveis. É como um recomeço de energia no meu espetáculo.

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Imagem da Portada:  © Oriol Reverter